Todos nós conhecemos a
expressão “sanguessuga”, certo?! Pois bem, longe dos conceitos etimológicos e biológicos,
e sim numa concepção sustentada no senso comum e nas figuras de linguagem é que
conversei com uma pessoa comum; aqui chamarei de Robson, pois não lembro o seu
nome, que posteriormente após longas conversas descobri ser ele um Doutor - não
me lembro em que - mas que no momento não exercia suas atividades por motivos
diversos.
Pois bem, tudo aconteceu de
maneira bem tranquila. Eu ali sentado em um banquinho em uma praça de Belo
Horizonte, esperando chegar a hora de viajar encontro Robson. Caminhava lentamente, sentou ao meu lado e pediu uns
trocados ou algo para comer. Tinha esquecido minha carteira no alojamento e
disse que buscaria para dar o que me havia pedido. Peguei a carteira e passei
num carrinho de cachorro quente comprei e levei a ele.
Perguntei de onde era. Quais
eram os motivos que levaram ele a ter sua vida dedicada a mendicância.
Sinalizou: desilusões amorosas, conflitos no trabalho e a possibilidade de ser
ou estar livre. Concentrei-me na segunda assertiva; os conflitos de trabalho. Era de uma cidade do interior e não me
respondeu o que fazia antes da mendicância. Contudo, continuei a conversar com
Robson, pois tinha 30 ou 40 minutos a esperar. E confesso que aquele senhor de
aproximadamente de 50 anos me chamava a atenção pela sua eloquência.
Através dos meus
questionamentos começou a falar sobre os conflitos de trabalho. Disse ele que o
extremou foi à quantidade de pessoas que o procuravam para obter vantagens ou
oportunidades em decorrência do prestigio que possuía. Que eu categorizei como
“sanguessugas”. E depois que conquistavam seus interesses o abandonavam e isto,
em função de sua autoestima baixa em decorrência da primeira assertiva, foi
decisivo em sua escolha. Atualmente tem 15 anos de vida nas ruas. Sobrevive de
doações e cortesias de pessoas que o admiram e solidarizam com sua história.
Um encontro ao acaso
serviu-me para pensar algumas coisas que aconteceram comigo e com outros amigos
e elaborei esquemas e reflexões sobre aquele singelo encontro. Associe a outro
encontro que tive também em uma cidade do interior de SC há pouco tempo atrás
com um sujeito de igual perspectiva.
Os “sanguessugas” são
sujeitos que entram em sua vida para buscar algum tipo de beneficio, por certo
período de tempo; e depois saem de nossas vidas de igual forma: imediata e
sorrateiramente. Buscam sugar “todo o seu sangue” sugam tanto, por diversas
vezes, até esgotar seus reservatórios.
Como verdadeiros “vampiros”
sugam e consomem toda a sua energia até conquistarem seus objetivos e metas
desenhadas. Suas ações são; perfeitamente; planejadas e sistematizadas que são
capazes de qualquer coisa para conquistar suas artimanhas.
Lido com elas
constantemente. Em todos os seguimentos que atuo. Aqueles que invadem sua
família são os piores me parece. Pois, te beijam no rosto, estabelecem relações
de grande proximidade, compactuam projetos e compartilham felicidades e
tristezas de maneira a buscar proximidade, intimidade e confiança.
Vejo isto, constantemente,
em filmes, novelas e seriados de televisão. Todavia na vida material e real e
complicado e complexo de entender.
No alto de minhas interpretações (que não são
tão altas assim) Robson evidenciava
que não soube conviver com isto na época e preferiu sair de cena e se dedicar a
terceira premissa, ainda que ela pareça uma atitude escalafobética e insana.
Sentiu-se mais feliz, pois
se despojou de suas vaidades (tinha evidenciado em determinado momento que era
extremamente vaidoso) e conseguiu ver o mundo por outras lentes, e com isto se
tornou mais humano e menos tenso e ansioso. Pensei comigo: sim com este estilo
de vida é possível se tornar menos ansioso e menos tenso, afinal não necessita
pensar nas relações e redes necessárias ao convívio social. Está deveras a
margem disto tudo.
De certo, são escolhas. Para
uns certas, para outras erradas, ou para outras apenas escolhas. Certamente
alguém fará ou até o momento já fez alguma relação “viva assim então”, pois
nesta esteira certa vez me disseram Por que não vive lá? (quando vivi em outro
país e falei muito bem deste). O exercício reflexivo pode ser trágico e
repulsivo quando vai de encontro ao coletivo do sistema ou da conjuntura.
Robson
escolheu viver assim, pois sinalizou um desprendimento deste mundo complexo.
Disse estar feliz (não quis discutir o conceito de felicidade, tendo em vista a
subjetividade conceitual existente dado ao tempo de prosa que tivemos) e o observei
assim. Imaginei “os sanguessugas” perto de mim, ao meu redor, buscando alguma
coisa que julgam que tenha. E a única coisa que tenho, certamente nunca terão
profundamente.
Ao final de nossa prosa
soube que Robson largou a
universidade e suas atividades para se dedicar a mendicância e a terceira
premissa. Não sei se conseguiu plenamente. Mas tenho a clareza que os valores
podem ser bem diferentes dos valores dos outros. E que se soubéssemos respeitar
os valores dos outros o mundo certamente seria melhor ou minimamente mais
interessante menos prolixo (embora saiba que prolixas são pessoas).
Com Robson aprendi varias coisas. Uma delas é: procure um sensor anti
“sanguessugas”, e outra: seja mais tranquilo em relações aos outros. Obrigado Robson, espero vê-lo ainda em algum dia
ou noite.
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