segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Interpretando monstros de outros armários VIII



Charles Roberto sempre dizia para mim assim: nada é demasiadamente fácil, afinal as coisas que supostamente possam ser fácil se dão em decorrência de possuir condições de conquistar, resolver, relacionar e contextualizar de maneira satisfatória aquilo que se apresenta como um problema ou uma simples tarefa qualquer. Alguns entusiasmados com os conceitos educacionais midiáticos e imperialistas diriam: possuem a habilidade e competência para resolver e desenvolver os modos da resolução de problemas.
Entre diversas coisas que Charles Roberto conversou comigo, esta certamente foi a que mais obliterou meus pensamentos, uma vez que estou inserido neste contexto educacional e estes conceitos parecem ser unanimidade acadêmica para o desenvolver das praticas educativas. 
Ressalvo, entretanto que a obliteração ocorreu, inicialmente, no sentido negativo, tendo em vista o fluxo de construção do conhecimento que venho desenvolvendo ao longo de minha carreira. Pensei se estava praticando estes conceitos nefastos - idealizados por Charles Roberto - que servem para a condução pedagógica na ordem da produção e da reprodução da capitalização da educação.
Posteriormente fiquei mais tranquilo na medida em que não tenho realmente pactuado com esta dinâmica sinalizada por Charles Roberto.
Percebi que tenho desenvolvido minhas praticas educativas distanciados - metaforicamente - de conceitos que coloquem a educação como um “produto” comercial e rentável a serviço do capital ainda que existam discussões ulteriores acerca de nossa condição existencial nesta vida mundana, e obviamente da relação prostituída do trabalho que me coloca nesta maquinaria circular e (re) produtivista que, infelizmente, me condiciona e condiciona a todos. Ao menos, me dou o direito crítico e pessoal de ser livre em minha (in) consciência.
Na realidade Charles Roberto estava sinalizando que precisamos estar preparados para as oportunidades e dificuldades muitas vezes impostas pelas condições sociais existentes. E, desta forma, elas sim, se tornam fáceis ou ao menos possíveis de se resolver nas possibilidades adequadas que estas se apresentam, se manifestam, ou as que buscamos a todo instante.
As argumentações de Charles Roberto se sustentavam na ideia que muitos sujeitos não se preparam adequadamente para seus anseios futuros. Se interessam categoricamente em comodidades e nos anseios imediatos. Avança ainda considerando que se movimentam por razoes individuais e não por altruísmos, e ações deste nível tem individualizado o ser humano, sobretudo neste período que vivenciamos. Um período que valoriza sistematicamente a virtualidade e a superficialidade das relações e da forma de conceber o conhecimento.
Estabeleci uma reflexão acerca das argumentações desenvolvidas por Charles Roberto. Nesta reflexão procurei fugir da condição binômia; concordo - não concordo; apenas pensei se existe (ia) fundamentos para pensar tais proposições e quais seriam os aspectos contraditórios deste processo argumentativo.
Um exercício bem interessante, ao menos para mim, tendo em vista minha dificuldade teórica de alcançar as considerações de Charles Roberto. Primeira ação desenvolvida por mim foi de reconhecer minha ignorância e identificar algum componente que, a partir das minhas possibilidades, poderia, ao menos, refletir. Posteriormente estabeleci os contextos de base que Charles Roberto trazia em seus conceitos. Sua condição de família, seus vínculos sociais, suas propostas veladas e imaginei suas intencionalidades subjetivas contidas em seu discurso.
Ao desenvolver este processo percebi as razoes que o fizeram a desenvolver tais proposições. Confesso que a concordância aos seus pensamentos já não eram tão importantes, mas importantes. Todavia, fiquei tenso ao pensar se Charles Roberto estava propenso a discutir suas argumentações. Afinal convenhamos, se tenho opiniões, proposições e contextualizações sobre as coisas, existe a necessidade de discussão e observação de outras visões e posicionamentos concernentes a estes fenômenos, e a partir destes, estabelecer outras proposições que não avançam a simples concordância ou a sua negação.
De maneira pontual diria: preciso estar aberto a outros posicionamentos. Totalmente contrário aos posicionamentos que infringem a ética, todavia inclinado a argumentações mais sólidas e consistentes. Pois assim, aquela condição ignorante que faz parte de mim tem a possibilidade de conhecer, pensar e agir. Eu conhecendo, pensando e agindo tenho a possibilidade de me emancipar e me tornar um sujeito melhor e pleno a cada momento.
Desta prosa toda com Charles Roberto percebi que se faz necessário a ruptura das perspectivas binômias. É preciso avançar no campo das concepções processuais e não nas proposições peremptórias. Identifiquei que existe a possibilidade de avançar no campo investigativo através de coisas comuns e mundanas que se apresentam ou buscamos diariamente. Apenas precisamos estar propensos a isto e fugir das condições dogmáticas impostas por diversos segmentos de nossa sociedade.
E como não poderia deixar de dizer: precisamos fugir dos orelhas secas! Obrigado Charles Roberto!

Nenhum comentário:

Postar um comentário