segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Interpretando os monstros de outros armários X



 Todos nós conhecemos a expressão “sanguessuga”, certo?! Pois bem, longe dos conceitos etimológicos e biológicos, e sim numa concepção sustentada no senso comum e nas figuras de linguagem é que conversei com uma pessoa comum; aqui chamarei de Robson, pois não lembro o seu nome, que posteriormente após longas conversas descobri ser ele um Doutor - não me lembro em que - mas que no momento não exercia suas atividades por motivos diversos.
Pois bem, tudo aconteceu de maneira bem tranquila. Eu ali sentado em um banquinho em uma praça de Belo Horizonte, esperando chegar a hora de viajar encontro Robson. Caminhava lentamente, sentou ao meu lado e pediu uns trocados ou algo para comer. Tinha esquecido minha carteira no alojamento e disse que buscaria para dar o que me havia pedido. Peguei a carteira e passei num carrinho de cachorro quente comprei e levei a ele.
Perguntei de onde era. Quais eram os motivos que levaram ele a ter sua vida dedicada a mendicância. Sinalizou: desilusões amorosas, conflitos no trabalho e a possibilidade de ser ou estar livre. Concentrei-me na segunda assertiva; os conflitos de trabalho. Era de uma cidade do interior e não me respondeu o que fazia antes da mendicância. Contudo, continuei a conversar com Robson, pois tinha 30 ou 40 minutos a esperar. E confesso que aquele senhor de aproximadamente de 50 anos me chamava a atenção pela sua eloquência.
Através dos meus questionamentos começou a falar sobre os conflitos de trabalho. Disse ele que o extremou foi à quantidade de pessoas que o procuravam para obter vantagens ou oportunidades em decorrência do prestigio que possuía. Que eu categorizei como “sanguessugas”. E depois que conquistavam seus interesses o abandonavam e isto, em função de sua autoestima baixa em decorrência da primeira assertiva, foi decisivo em sua escolha. Atualmente tem 15 anos de vida nas ruas. Sobrevive de doações e cortesias de pessoas que o admiram e solidarizam com sua história.
Um encontro ao acaso serviu-me para pensar algumas coisas que aconteceram comigo e com outros amigos e elaborei esquemas e reflexões sobre aquele singelo encontro. Associe a outro encontro que tive também em uma cidade do interior de SC há pouco tempo atrás com um sujeito de igual perspectiva.
Os “sanguessugas” são sujeitos que entram em sua vida para buscar algum tipo de beneficio, por certo período de tempo; e depois saem de nossas vidas de igual forma: imediata e sorrateiramente. Buscam sugar “todo o seu sangue” sugam tanto, por diversas vezes, até esgotar seus reservatórios.
Como verdadeiros “vampiros” sugam e consomem toda a sua energia até conquistarem seus objetivos e metas desenhadas. Suas ações são; perfeitamente; planejadas e sistematizadas que são capazes de qualquer coisa para conquistar suas artimanhas.
Lido com elas constantemente. Em todos os seguimentos que atuo. Aqueles que invadem sua família são os piores me parece. Pois, te beijam no rosto, estabelecem relações de grande proximidade, compactuam projetos e compartilham felicidades e tristezas de maneira a buscar proximidade, intimidade e confiança.
Vejo isto, constantemente, em filmes, novelas e seriados de televisão. Todavia na vida material e real e complicado e complexo de entender.
No alto de minhas interpretações (que não são tão altas assim) Robson evidenciava que não soube conviver com isto na época e preferiu sair de cena e se dedicar a terceira premissa, ainda que ela pareça uma atitude escalafobética e insana.
Sentiu-se mais feliz, pois se despojou de suas vaidades (tinha evidenciado em determinado momento que era extremamente vaidoso) e conseguiu ver o mundo por outras lentes, e com isto se tornou mais humano e menos tenso e ansioso. Pensei comigo: sim com este estilo de vida é possível se tornar menos ansioso e menos tenso, afinal não necessita pensar nas relações e redes necessárias ao convívio social. Está deveras a margem disto tudo.
De certo, são escolhas. Para uns certas, para outras erradas, ou para outras apenas escolhas. Certamente alguém fará ou até o momento já fez alguma relação “viva assim então”, pois nesta esteira certa vez me disseram Por que não vive lá? (quando vivi em outro país e falei muito bem deste). O exercício reflexivo pode ser trágico e repulsivo quando vai de encontro ao coletivo do sistema ou da conjuntura.
Robson escolheu viver assim, pois sinalizou um desprendimento deste mundo complexo. Disse estar feliz (não quis discutir o conceito de felicidade, tendo em vista a subjetividade conceitual existente dado ao tempo de prosa que tivemos) e o observei assim. Imaginei “os sanguessugas” perto de mim, ao meu redor, buscando alguma coisa que julgam que tenha. E a única coisa que tenho, certamente nunca terão profundamente.
Ao final de nossa prosa soube que Robson largou a universidade e suas atividades para se dedicar a mendicância e a terceira premissa. Não sei se conseguiu plenamente. Mas tenho a clareza que os valores podem ser bem diferentes dos valores dos outros. E que se soubéssemos respeitar os valores dos outros o mundo certamente seria melhor ou minimamente mais interessante menos prolixo (embora saiba que prolixas são pessoas).
Com Robson aprendi varias coisas. Uma delas é: procure um sensor anti “sanguessugas”, e outra: seja mais tranquilo em relações aos outros. Obrigado Robson, espero vê-lo ainda em algum dia ou noite.
 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Interpretando os monstros de outros armários IX



 Em um daqueles dias chuvosos e frios em que as manhas não convidam a uma atividade laborativa, o conforto da casa parece convidar a mais alguns minutos de relaxamento, portanto daquela derradeira dormida, os cinco minutos finais. E, percebo que tenho que levantar e enfrentar - sim, pois nestas condições é de fato um enfrentamento - os desígnios que o trabalho me oferece, me sugere ou me destina.
Levanto lentamente, estabeleço minha rotina e sigo em frente. Agora mais ávido e devidamente acordado observo as consequências que o trabalho, as pessoas, as relações, ou seja, todas as coisas mundanas que nos acometem todo o dia possuem influência sobre nós singelos mortais. Ora influencia negativa, ora positiva, todavia influencias de todas as naturezas.
Nesta lida diária converso com muitas pessoas e percebo o quão distanciado estamos, mesmo que as condições tecnológicas nos possibilitem contatos com pessoas em locais longínquos. De certo entendemos que tudo isto é fruto de nossa própria construção, e neste sentido vivemos o que escolhemos diariamente ao longo da vida.
Mas nesta esfera reflexiva comecei a observar as pessoas do ponto de vista das relações familiares. Para tal, categorizei algumas premissas que julgo interessante e concentrei meu olhar nesta trilha. De modo a compreender ainda que superficialmente - afinal lembrem-se dos meus monstrinhos anteriores: posso construir meu pensamento até o aonde minha ignorância tácita permite, portanto minhas limitações são grandes impeditivos de aprendizagem. Duro isto, mas é verdade – a influencia que as coisas mundanas e as pessoas possuem sobre mim e aos outros.  A purificação da família; a transferência de responsabilidades, dos filhos como possibilidade de renda e por fim da refutabilidade valorativa, foram as categorias.
Como sempre pedi ajuda a algumas pessoas para esta construção deste pequeno emaranhado de opiniões, afinal sozinho não conseguiria. Slype me ofereceu sua compreensão sobre a purificação da família; Charles Roberto me oportunizou sua argumentação sobre a transferência de responsabilidades; Gio fez suas considerações sobre dos filhos como possibilidade de renda e Black Mamba teceu comentários concernentes a refutabildade valorativa.
Slype desenvolve sua ideia sustentada na concepção que a família tende a estabelecer um processo de purificação dos seus e de suas ações. Ao estarmos na coletividade tendemos a idealizar a perfeição ou uma grande proximidade desta. E isto se deve ao fato, segundo Slype, que existe a necessidade de um protecionismo que facilitará o processo de inclusão e da condição de pertencimento deste mesmo espectro social. E que quando os envolvidos nesta prosa estão distanciados deste entorno familiar em decorrência da morte ou da separação; como exemplo; surgem elementos que destroem aquela purificação familiar. Sinaliza inclusive, que isto também ocorre em outras dimensões, tais como empresas ou clubes.
De uma forma mais simples, mas bastante contundente, diria: enquanto servimos estamos protegidos. Quando não pertencemos mais a este entorno não servimos mais.
Charles Roberto trouxe uma contribuição bastante interessante sobre a transferência de responsabilidades. Evidencia suas compreensões com um questionamento a priori, a saber: nesta atual sociedade - tenha ela o rótulo que quiser, pós-moderna, modernidade liquida, neomodernismo, pseudomodernismo, modernismo – quem cuida de nossos filhos? Quem cuida das pessoas que cuidam de nossos filhos? Continua suas colocações aclarando tal concepção. Contratamos uma babá para cuidar de nossos filhos, esta por sua vez em sua maioria das vezes contrata outra babá - um claro exercício de precarização do trabalho - a babá subsequente deixa seu filho em uma creche, portanto alguém cuida de seu filho e assim segue este circulo de cuidado.
Observa, portanto que quem cuida dos nossos filhos é o outro, e talvez isto precise ser considerado reflexivamente, tendo em vista o processo de cuidado e amor que idealizamos pelos outros. Se terceirizarmos nossos maiores tesouros, como podemos amar os outros ou minimamente compreender o amor?
Gio por sua vez, com igual importância, nos mostra seu entendimento sobre dos filhos como possibilidade de renda já asseverando que pais que fazem os filhos para estes trabalharem para o aumento da renda possuem pouco amor pelos mesmos. Traz alguns exemplos como forma explicativa.
Os pais depositam seus filhos na escola de depois se estes não escolhem fazer uma atividade formativa devem trabalhar para ajudar na renda familiar. Enquanto estiver sobre meu teto estará sobre minhas regras. No futuro deverá pagar o que investimento que fiz em você. Gio repudia isto de maneira veemente, argumentando que é um dever dos pais darem as condições adequadas a uma formação educacional (in) formal. Chama estes de verdadeiros déspotas. E que se realmente fizerem isto de forma afetiva e carinhosa existe grande possibilidade deste, de maneira autônoma, escolher boas trilhas para a vida.
Black Mamba em suas argumentações entende que a refutabilidade valorativa seria uma forma de conhecer outras perspectivas de valores. De outros olhares. Diz: é difícil compreender os valores do outro quando estes não são os nossos valores. Meus valores são mais verdadeiros e legítimos do que qualquer outro. Minhas concepções são as mais seguras e confiáveis. A crítica reside na dificuldade de conceber diferentes contextos, culturas e assim outros posicionamentos. Pergunta assim: é possível uma mulher devidamente obesa com celulites e estrias usar biquíni na praia sem ser alvo de criticas e chacotas?
No âmbito da dificuldade de aceitar outros valores Black Mamba indaga aos diversos ventos: temos saída? Quais caminhos a seguir? E termina sinalizando, sim temos saídas e muitas trilhas, sobretudo aquelas que materializam nossa consciência.
Então, em um dia chuvoso - assim como qualquer outro - é possível pensar sobre os fenômenos que nos rodeiam e fazem parte de nós, portanto nos constituem sujeitos. Como em outras vezes por mim desenvolvida nos monstros evidencio novamente que os aspectos peremptórios contidos nas argumentações dos meus amigos são as considerações menos importante. O exercício reflexivo e suas consequências são as atividades mais interessantes e representativas.
Neste sentido, compreendo que a reflexão ainda é um grande exercício físico em suas concepções mais teóricas - portanto, neste sentido fujo drasticamente da concepção comunal acerca do exercício físico - e sendo assim precisa ser respeitado todos os seus princípios diretrizes para o alcance de um objetivo traçado.
Meus amigos sugiro este exercício a todos. Bom abraço a todos!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Interpretando monstros de outros armários VIII



Charles Roberto sempre dizia para mim assim: nada é demasiadamente fácil, afinal as coisas que supostamente possam ser fácil se dão em decorrência de possuir condições de conquistar, resolver, relacionar e contextualizar de maneira satisfatória aquilo que se apresenta como um problema ou uma simples tarefa qualquer. Alguns entusiasmados com os conceitos educacionais midiáticos e imperialistas diriam: possuem a habilidade e competência para resolver e desenvolver os modos da resolução de problemas.
Entre diversas coisas que Charles Roberto conversou comigo, esta certamente foi a que mais obliterou meus pensamentos, uma vez que estou inserido neste contexto educacional e estes conceitos parecem ser unanimidade acadêmica para o desenvolver das praticas educativas. 
Ressalvo, entretanto que a obliteração ocorreu, inicialmente, no sentido negativo, tendo em vista o fluxo de construção do conhecimento que venho desenvolvendo ao longo de minha carreira. Pensei se estava praticando estes conceitos nefastos - idealizados por Charles Roberto - que servem para a condução pedagógica na ordem da produção e da reprodução da capitalização da educação.
Posteriormente fiquei mais tranquilo na medida em que não tenho realmente pactuado com esta dinâmica sinalizada por Charles Roberto.
Percebi que tenho desenvolvido minhas praticas educativas distanciados - metaforicamente - de conceitos que coloquem a educação como um “produto” comercial e rentável a serviço do capital ainda que existam discussões ulteriores acerca de nossa condição existencial nesta vida mundana, e obviamente da relação prostituída do trabalho que me coloca nesta maquinaria circular e (re) produtivista que, infelizmente, me condiciona e condiciona a todos. Ao menos, me dou o direito crítico e pessoal de ser livre em minha (in) consciência.
Na realidade Charles Roberto estava sinalizando que precisamos estar preparados para as oportunidades e dificuldades muitas vezes impostas pelas condições sociais existentes. E, desta forma, elas sim, se tornam fáceis ou ao menos possíveis de se resolver nas possibilidades adequadas que estas se apresentam, se manifestam, ou as que buscamos a todo instante.
As argumentações de Charles Roberto se sustentavam na ideia que muitos sujeitos não se preparam adequadamente para seus anseios futuros. Se interessam categoricamente em comodidades e nos anseios imediatos. Avança ainda considerando que se movimentam por razoes individuais e não por altruísmos, e ações deste nível tem individualizado o ser humano, sobretudo neste período que vivenciamos. Um período que valoriza sistematicamente a virtualidade e a superficialidade das relações e da forma de conceber o conhecimento.
Estabeleci uma reflexão acerca das argumentações desenvolvidas por Charles Roberto. Nesta reflexão procurei fugir da condição binômia; concordo - não concordo; apenas pensei se existe (ia) fundamentos para pensar tais proposições e quais seriam os aspectos contraditórios deste processo argumentativo.
Um exercício bem interessante, ao menos para mim, tendo em vista minha dificuldade teórica de alcançar as considerações de Charles Roberto. Primeira ação desenvolvida por mim foi de reconhecer minha ignorância e identificar algum componente que, a partir das minhas possibilidades, poderia, ao menos, refletir. Posteriormente estabeleci os contextos de base que Charles Roberto trazia em seus conceitos. Sua condição de família, seus vínculos sociais, suas propostas veladas e imaginei suas intencionalidades subjetivas contidas em seu discurso.
Ao desenvolver este processo percebi as razoes que o fizeram a desenvolver tais proposições. Confesso que a concordância aos seus pensamentos já não eram tão importantes, mas importantes. Todavia, fiquei tenso ao pensar se Charles Roberto estava propenso a discutir suas argumentações. Afinal convenhamos, se tenho opiniões, proposições e contextualizações sobre as coisas, existe a necessidade de discussão e observação de outras visões e posicionamentos concernentes a estes fenômenos, e a partir destes, estabelecer outras proposições que não avançam a simples concordância ou a sua negação.
De maneira pontual diria: preciso estar aberto a outros posicionamentos. Totalmente contrário aos posicionamentos que infringem a ética, todavia inclinado a argumentações mais sólidas e consistentes. Pois assim, aquela condição ignorante que faz parte de mim tem a possibilidade de conhecer, pensar e agir. Eu conhecendo, pensando e agindo tenho a possibilidade de me emancipar e me tornar um sujeito melhor e pleno a cada momento.
Desta prosa toda com Charles Roberto percebi que se faz necessário a ruptura das perspectivas binômias. É preciso avançar no campo das concepções processuais e não nas proposições peremptórias. Identifiquei que existe a possibilidade de avançar no campo investigativo através de coisas comuns e mundanas que se apresentam ou buscamos diariamente. Apenas precisamos estar propensos a isto e fugir das condições dogmáticas impostas por diversos segmentos de nossa sociedade.
E como não poderia deixar de dizer: precisamos fugir dos orelhas secas! Obrigado Charles Roberto!