segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Interpretando monstros de outros armários IV


Várias vezes participei de congressos, seminários, oficinas ou algo do gênero, ora como apresentador de trabalhos, ora como ouvinte. Sempre tive comigo que ali se reúnem sujeitos para discutir, refletir e estabelecer outras concepções sobre os fenômenos em discussão e até buscar melhores condições de vida aos habitantes deste planeta. Se não pensassem assim encontros como estes não passariam de (é) ventos. Para a minha grata surpresa no congraçar de minhas análises mais vezes minha premissa básica se evidenciou em detrimentos dos (é) ventos.
Ao sinalizarmos a necessidade de reunir-se e discutir nossas ideias deixamos claro aquilo que constantemente falo em meus modestos textos. Precisamos da opinião alheia para buscar o suprassumo de nossas reflexões e por consequência nossas ações. Esta dinâmica - aqui chamada de acadêmica - se espacializa também no mundo fora dos bancos escolares. Em conversas de bar, rodas de chimarrão e churrasco com amigos, tenho observado que as pessoas buscam; ainda que muitas vezes como pano de fundo; a melhor condição de vida. Desta forma posso afirmar com honestidade e sem demagogia: temos saídas ainda neste mundo que prioriza o ter e a meritocracia. Apenas precisamos - como dizia um filósofo brasileiro - nos permitir atitudes politicamente incorretas.
Ser politicamente incorreto, em minha concepção, é perceber que em determinados momentos precisamos expor nossa concepção independente das condições manifestadas. Por exemplo: perguntei ao um companheiro meu há um tempo o que pensava sobre as condições de relações sociais entre os seres humanos. Respondeu-me de maneira impetuosa e lacônica: hipócritas e demagogas. Nossa! Fiquei surpreso, constrangido e preocupado. Afinal, tinha alguém mais insatisfeito com os rumos da humanidade do que eu (risos).
Por um momento em minha vida pensei ser um ser pessimista e arredio, contudo percebo que tem mais gente nestas condições do que daquele que vos fala. Que pactua deste sentimento (risos). Fiquei contente e triste ao mesmo tempo, - nesta ordem - feliz pelo fato de saber que existem alguns patrícios que pensam nesta visão não romantizada e que tem em si a ideia que a “ironia é o primo pobre do sarcasmo” uma concepção por mim desenvolvida a partir do pessimismo, e por sua vez, triste por saber que este pessimismo pode vir a ser um pensamento único, portanto levando as condições materiais do ser humano a beira de uma tristeza coletiva e do engano do mundo.
Não se dando por satisfeito meu companheiro continuou suas considerações enigmáticas. Eduardo, digo que os seres humanos são hipócritas e demagogas por diversos motivos, contudo a certeza de que utilizamos recursos e artifícios subliminares na construção de nossas estratégias para conviver em sociedade me permite desenvolver a ideia que estamos oferecendo ao outro algo impuro, portanto não o melhor que temos, e sim o melhor que temos para termos algo em beneficio. Comentei: algo como máscaras? Sinalizou: sim. Afinal criamos regras e leis para contornar e conformar aquilo que nos mesmo produzimos. E quando perdemos controle precisamos frear e bloquear. Exemplo disto são as leis de trânsito - que surgem demagogicamente porque queremos carros mais rápidos; o incentivo ao crédito – que condiciona o ser humano ao consumismo desnecessário; ao incentivo midiático oportunista – que fomenta na cabeça do ser humano a necessidade de ter e ter. Além de outras coisas mais de igual relevância.
Fiquei atento escutando suas colocações e pensando naquilo que havia comentado. E em primeira instância concordando com suas reflexões, realiando um filme imaginário sobre os exemplos colocados e sua forma de conduzir suas ideias. Perguntei a ele: está passando por alguma dificuldade emocional? Seja em qualquer instancia: trabalho, família, amigos, entre outros? Sinalizou: não apenas traçando uma realidade dura e politicamente correta que habita nosso meio de convivência e basta nos colocarmos numa situação de “estranhamento” e conseguiremos observar tais fatos e condições. Comentei: perguntei isto, porque quando comento aos outros sobre tais concepções - estou agora concordando já em segunda instancia - surgem os pseudos psicólogos comentando nesta esteira comigo. Sinalizou: esqueça, seja politicamente incorreto, mesmo que isto esteja na base conflituosa. Sua felicidade depende de suas ideias e ações e não, necessariamente, na concordância do outros aos seus pensamentos.
Naquele momento pensei estar no lugar certo, na hora certa. Poucas são as vezes que temos a oportunidade de encontrar alguém que demonstra suas ideias. Independente se elas são coadunas com as suas ou não. Mas, o exercício de dialogar ainda me chama muita atenção, afinal falar e escutar num dialogo ainda é um prazer incomensurável. Observar que não existem protagonistas e nem coadjuvantes numa prosa é uma raridade e dou muito valor a isto.
Fiquei contente em encontrar tal companheiro. Ainda que possa algum dia refutar suas ideias - em terceira instancia - me mostrou a necessidade de ser politicamente incorreto, mesmo que isto crie situações bem desagradáveis. E, desta prosa cheguei a algumas considerações. Primeiro: busquemos ser aquilo que necessariamente precisamos ser, portanto, não sejamos mais e nem menos que podemos ser, sejamos autênticos. Segundo: priorize e valoriza aqueles que demonstram respeito e lealdade, pois estes terão mais possibilidades de serem politicamente incorretos com você. E por fim: sejamos politicamente incorretos e nos respeitemos.
Obrigado meu companheiro, até a próxima!

Um comentário:

  1. Fiquei boquiaberta com seu texto... um mero acaso que digitei aqui no google "tristeza coletiva" e cai nesse site que me convidou a uma prosa mto boa!
    Fiquei na curiosidade de saber oq mais tem por aqui! Outro dia eu volto! :-)) Até mais!

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