sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Interpretando monstros de outros armários III



Vivendo num sociedade que valoriza o consumo, o crédito, a mais valia e a condição de supremacia com o outro, fica fácil perceber que estamos vivendo um mundo bastante “fake”. As relações parecem estar se consolidando por este ínterim de vantagens para uns e resquícios e migalhas para poucos, sustentados na ideia - bastante desenvolvida em cursos de resoluções de conflito, autoajuda, ou como ser líder no/em negócios – do ganha ganha. Estas colocações iniciais explanadas servem para dar o contexto de um enorme monstro que venho presenciando ao longo do tempo. E que cada vez mais ganha força na atualidade, tendo em vista a escolha da sociedade por este modelo de desenvolvimento que escolhemos viver, seja intencionalmente ou inconscientemente.  
Os impactos deste modelo de sociedade são visíveis em várias circunstâncias, inclusive na ploriferação dos cursos de graduação e pós-graduação para atender as demandas desta sociedade. Ou melhor, dizendo, deste mercado que valoriza a (pseudo) liberdade econômica. Estão também presentes na abertura de determinados setores comerciais que acomodam alguns profissionais de áreas distintas, ou seja, as chamadas “reservas de mercado”.  É companheiros, precisamos ter um olhar mais calibrado para observar tais considerações e a partir disto ter condições mínimas de lutar pelos seus direitos.
Lembro que escuto isto desde os primórdios de minha existência. Mas minha ignorância e falta de sabedoria não me permitiam nem ao menos começar, afinal não tinha - e não tenho até hoje, mas como uma aversão ao bom cabrito, berro, berro, sabendo que vou morrer - condições políticas e sociais de ao menos compreender o que estou vivendo. Mas a condição utópica necessária a minha sobrevivência e o saber das iniquidades sociais e das injustiças permitem ao menos ter uma possibilidade de fugir deste escárnio social que a grande maioria da população vive, inclusive eu. Posso dizer então: um arremedo de luta contra a relação do ganha ganha.
Certo dia liguei ao um parceiro - Charles Roberto - de longa data, melhor dizendo, um amigo não imaginário, portanto real, para um conversa  regada a “suco de laranja” sobre os desígnios da vida na atualidade. Um dos poucos amigos que gostam de invadir esta viagem insólita, que para muitos é sem pé e nem cabeça. Mas ficamos com o corpo, ainda que desconsideremos a fragmentação do ser humano. Mas em tempos de migalhas ficamos com algo e desfrutamos deste em sua totalidade.
A conversa “suleava” - uma aversão ao norteava, afinal meu norte é o sul – por uma questão muito simples: qual a nossa missão neste mundo? Não invadimos esferas esotéricas, filosóficas, antropológicas entre outras ciências ou área de conhecimento. Tínhamos apenas o objetivo de refletir sobra a questão, ainda que possam estar implícitas todas estas questões. Portanto, nos demos ao luxo de pensar e pensar, sem a necessidade de operacionalizar ou dar respostas do tipo: como? Por que disto? O que isto vai melhorar em sua vida?
Sentimos nesta prosa a necessidade de pensar quem de nós era impoluto. Afinal ser impoluto é uma condição justa com o outro ser também impoluto. Seguimos neste rumo sinalizando: sejamos diferentes com os diferentes para manter a sua a individualidade, bem como a dos outros. Portanto respeitar o outro e se respeitar é naturalmente uma condição justa. E, quando fazemos isto estamos indo contra aquele mundo “fake” evidenciado no inicio desta prosa.
Nossa missão neste mundo - pactuamos de tais colocações - é bastante complexa e contraditória, mas pensar que podemos ter relações confiáveis e buscar estas sem a necessidade do algo em troca, certamente, foge da condição de falcatrua e oportuniza uma aproximação mais coerente com a natureza humana de seres sociáveis intencionalmente.
Charles Roberto sinalizou que tem feito isto ao longo de sua existência e que tem sido bem mal visto diante de suas ações em sua vida cotidiana. Perguntei a ele: conseguiu se manter impoluto diante dos (pré)conceitos? Ele me respondeu: sim, estou seguro que isto é importante. Meus filhos me admiram por isto, seguem este caminho, refletem sobre suas ações, agem com parcimônia e respeito aos outros. O que poderia esperar mais? Continuei dizendo: certo, também percebo isto em sua vida e na de seus filhos. Penso que também estou inclinado neste caminho, mas a parcimônia ao longo do tempo não tem feito parte de mim (risos), é algo que venho buscando arduamente para me tornar uma pessoa melhor. Mas ao concordar contigo não quero viver a sua vida, quero compreendê-la e ativá-la a partir da minha realidade e da minha vivência, mas seus conceitos fazem parte de mim.
Chegamos a algumas conclusões desta prosa. Para viver neste mundo “fake” é preciso ser autêntico e manter relações que permitam ser você mesmo independente dos interesses dos outros. Ser impoluto é uma necessidade do ser humano para conquistar uma relação - seja ela qual for - sólida e duradoura. Diante disto, estabeleceremos as condições fundamentais de resistência para viver numa sociedade que prima pelo dinheiro e pelos bens materiais.
Valorizemos mais os nossos e possibilitemos a eles melhores condições de reflexão e (com) vivência, assim certamente terão maiores condições de observar e reagir frente às iniquidades sociais, aos mandos e desmandos da classe opressora, das injustiças de toda ordem e do consumismo exploratório, e assim, buscando o distanciamento - ao menos parcialmente - deste mundo “fake”. Em busca do ser impoluto Charles Roberto, estamos juntos nesta lida!

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