Estava pensando em alguns
fenômenos corriqueiros e simplórios que nos acometem todos os dias, coisas
comuns. E, basicamente me ocorreu de estabelecer algumas relações e reflexões
com meu amigo Fleris. De início já me
chamou a atenção para uma reflexão mais leve, quero dizer, não acadêmica, pois
segundo ele, a academia está contaminada e ele quer se manter autêntico - como
se ele conseguisse tal façanha neste mundo que eu e ele vivemos. A utopia move
o sujeito humano, já comentei isto em outros tempos.
De certo nem o questionei,
simplesmente aceitei, mesmo que cada um tenha suas idiossincrasias. Respeitar a
opinião do outro é um princípio de extrema relevância para estabelecer as
condições necessárias à alteridade. De fato, apesar de tudo, preciso de alguém
como ele para dialogar e estabelecer conexões e, ainda assim, conversar com
quem se tem apreço. Certamente Fleris
sempre me enriquece.
Estava eu
ali sentado trabalhando em meu computador e fiquei impressionado/estarrecido
com algumas ações/atos das pessoas que se encontravam naquele ambiente. Embora
seja uma interpretação, portanto altamente subjetiva, pude perceber demasiadas
cortesias que posso dizer de grandes complexidades. A percepção/sensação que
tive foi de desrespeito, arrogância e empáfia. Sujeitos que
sinalizam posicionamentos hierárquicos e verticalizados para se posicionar
de maneira imperativa no ambiente em que vivem (o).
De maneira
mais simples. As pessoas fazem, basicamente, de tudo para se mostrar importante
perante os outros, sobretudo aos que hierarquicamente se encontram em
posicionamentos maiores nas instituições ou empresas que trabalham. E quando
estes são os maiores nesta escala, pensam ser o suprassumo, e assim sinalizam
“mimos e cortesias” para não dizer “vocês precisam de mim, alimentem minha
vaidade, me cortejam, pois assim facilito suas vidas”.
Falei para Fleris: - para que discutir
inclusão nesta lógica social que vivemos? Pois eu não quero, não tenho
interesse em me inserir ou fazer parte deste contexto que me remonta, mesmo de
maneira mais sutil e maquiada, as barbáries da especutalarização das
arenas gregas há muito tempo atrás.
Fleris asseverou: - esta característica pensada e racional é típica do
ser humano, afinal só ele pode estabelecer intenções além das intenções.
Estratégias exclusivamente pensadas para manifestar um sentimento dominante e
posicional altamente evidenciado na cultura que vivemos mundial e
historicamente, que diz: - na dificuldade existe uma grande oportunidade.
Interpretei mais
ou menos assim: no sofrimento dos outros existe a possibilidade de
garantir ou amealhar alguma mais valia, seja ela absoluta ou relativa. Fleris me cutucou dizendo: - você
está sendo muito rígido e intolerante. Mesmo que concorde totalmente com
você, poderias observar que se trata de uma ordem de natureza de reserva, ou
melhor, dizendo, de cunho sustentado na precaução, portanto altamente
defensivo. Que sinaliza a necessidade de manutenção de um espaço ou a tentativa
de conquistar algum espaço naquele cenário desejado. Disse: - é verdade Fleris
tens razão!
É! Desta
prosa com Fleris cheguei a algumas
considerações de ordem reflexiva: o ser humano beira ao ridículo ao se
distanciar da sua possibilidade de ter autonomia prática em suas decisões. Distanciar-se
de si, conscientemente, certamente é uma das maiores punições que alguém pode
fazer consigo mesmo. Contemplar aqueles em posições superiores, abrir mão de
suas razões - talvez ética - para apenas se estabelecer
socialmente/economicamente - diga-se conquistar cargos, manter cargos ou
garantir benesses privilegiadas - é um dilema que estes sacripantas terão que
conviver em seus íntimos. Conviverão com isto quando dormirem, sonharem e
acordarem, e assim retornarem a suas vidas escravas e pífias.
E aqueles
que precisam dos “mimos”, lembram? Também se desenvolvem como tal, com a
diferença que precisam alimentar seus egos e demais egos para se tornarem
sujeitos humanos - sociáveis - afinal seres desprezíveis já são.
Fleris ficou bastante impressionando
com o teor de nossa prosa, e sinalizou a necessidade de exemplos mais práticos
para ilustrar tais reflexões feitas. Mas chegamos a um consenso de que isto que
refletimos está em nosso lado, basta os sujeitos humanos observarem e pensarem
se fazem parte deste “mundo inclusivo”.
Depois
solitariamente fiquei mais tranquilo e feliz por ter liberado - com a
necessária companhia de Fleris - um
“monstrinho do meu armário”. Este exercício tem colaborado para expurgar o
cortisol que habita em meu corpo, pois observei que vivo num dilema de ordem
fisiológica ao pensar sobre estas condições sociais em que vivo,
tendo em vista a tensão corriqueira e o quanto fenômenos desta natureza me
incomodam. Mas, mesmo assim digo: embora outras coisas possam existir, tenho a
expectativa que a contradição move o mundo. Finalizo isto parafraseando um
pensador: - fui tão breve que já acabei.
Beijos a todos, inclusive
aos sacripantas!
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