terça-feira, 18 de setembro de 2012

Alguns monstros que estão em meu armário VII


Estava pensando em alguns fenômenos corriqueiros e simplórios que nos acometem todos os dias, coisas comuns. E, basicamente me ocorreu de estabelecer algumas relações e reflexões com meu amigo Fleris. De início já me chamou a atenção para uma reflexão mais leve, quero dizer, não acadêmica, pois segundo ele, a academia está contaminada e ele quer se manter autêntico - como se ele conseguisse tal façanha neste mundo que eu e ele vivemos. A utopia move o sujeito humano, já comentei isto em outros tempos.
De certo nem o questionei, simplesmente aceitei, mesmo que cada um tenha suas idiossincrasias. Respeitar a opinião do outro é um princípio de extrema relevância para estabelecer as condições necessárias à alteridade. De fato, apesar de tudo, preciso de alguém como ele para dialogar e estabelecer conexões e, ainda assim, conversar com quem se tem apreço. Certamente Fleris sempre me enriquece.
Estava eu ali sentado trabalhando em meu computador e fiquei impressionado/estarrecido com algumas ações/atos das pessoas que se encontravam naquele ambiente. Embora seja uma interpretação, portanto altamente subjetiva, pude perceber demasiadas cortesias que posso dizer de grandes complexidades. A percepção/sensação que tive foi de desrespeito, arrogância e empáfia. Sujeitos que sinalizam posicionamentos hierárquicos e verticalizados para se posicionar de maneira imperativa no ambiente em que vivem (o).
De maneira mais simples. As pessoas fazem, basicamente, de tudo para se mostrar importante perante os outros, sobretudo aos que hierarquicamente se encontram em posicionamentos maiores nas instituições ou empresas que trabalham. E quando estes são os maiores nesta escala, pensam ser o suprassumo, e assim sinalizam “mimos e cortesias” para não dizer “vocês precisam de mim, alimentem minha vaidade, me cortejam, pois assim facilito suas vidas”.
Falei para Fleris: - para que discutir inclusão nesta lógica social que vivemos? Pois eu não quero, não tenho interesse em me inserir ou fazer parte deste contexto que me remonta, mesmo de maneira mais sutil e maquiada, as barbáries da especutalarização das arenas gregas há muito tempo atrás. Fleris asseverou: - esta característica pensada e racional é típica do ser humano, afinal só ele pode estabelecer intenções além das intenções. Estratégias exclusivamente pensadas para manifestar um sentimento dominante e posicional altamente evidenciado na cultura que vivemos mundial e historicamente, que diz: - na dificuldade existe uma grande oportunidade.
Interpretei mais ou menos assim: no sofrimento dos outros existe a possibilidade de garantir ou amealhar alguma mais valia, seja ela absoluta ou relativa. Fleris me cutucou  dizendo: - você está sendo muito rígido e intolerante. Mesmo que concorde totalmente com você, poderias observar que se trata de uma ordem de natureza de reserva, ou melhor, dizendo, de cunho sustentado na precaução, portanto altamente defensivo. Que sinaliza a necessidade de manutenção de um espaço ou a tentativa de conquistar algum espaço naquele cenário desejado. Disse: - é verdade Fleris tens razão!
É! Desta prosa com Fleris cheguei a algumas considerações de ordem reflexiva: o ser humano beira ao ridículo ao se distanciar da sua possibilidade de ter autonomia prática em suas decisões. Distanciar-se de si, conscientemente, certamente é uma das maiores punições que alguém pode fazer consigo mesmo. Contemplar aqueles em posições superiores, abrir mão de suas razões - talvez ética - para apenas se estabelecer socialmente/economicamente - diga-se conquistar cargos, manter cargos ou garantir benesses privilegiadas - é um dilema que estes sacripantas terão que conviver em seus íntimos. Conviverão com isto quando dormirem, sonharem e acordarem, e assim retornarem a suas vidas escravas e pífias.
E aqueles que precisam dos “mimos”, lembram? Também se desenvolvem como tal, com a diferença que precisam alimentar seus egos e demais egos para se tornarem sujeitos humanos - sociáveis - afinal seres desprezíveis já são.
Fleris ficou bastante impressionando com o teor de nossa prosa, e sinalizou a necessidade de exemplos mais práticos para ilustrar tais reflexões feitas. Mas chegamos a um consenso de que isto que refletimos está em nosso lado, basta os sujeitos humanos observarem e pensarem se fazem parte deste “mundo inclusivo”.
Depois solitariamente fiquei mais tranquilo e feliz por ter liberado - com a necessária companhia de Fleris - um “monstrinho do meu armário”. Este exercício tem colaborado para expurgar o cortisol que habita em meu corpo, pois observei que vivo num dilema de ordem fisiológica ao pensar sobre estas condições sociais em que vivo, tendo em vista a tensão corriqueira e o quanto fenômenos desta natureza me incomodam. Mas, mesmo assim digo: embora outras coisas possam existir, tenho a expectativa que a contradição move o mundo. Finalizo isto parafraseando um pensador: - fui tão breve que já acabei.
Beijos a todos, inclusive aos sacripantas!


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