terça-feira, 4 de setembro de 2012

Alguns monstros que estão em meu armário V


Algumas perguntas insistem em me incomodar de uma maneira que somente eu consigo perceber o estrago disto tudo. Estrago em função das dúvidas que constantemente assolam meu pensar. De certo, às vezes isto me deixa bastante feliz, pois clarifica meus pensamentos, me conduz a uma necessidade incessante de conhecer e compreender as coisas. Quando conheço e compreendo estas coisas tenho enormes possibilidades para agir/tomar atitudes que condizem com a minha estrutura cognitiva, meu modo de operar. Como o objetivo textual não está nas perguntas e sim no compartilhar dos meus pequenos monstros vamos expor os ditos cujos.
Uma das minhas dúvidas reside num campo bem determinado e rigorosamente sistematizado “o campo científico”. Por um tempo eu tinha muitas dificuldades em compreender este cenário. Passado algum tempo percebo que, de fato, continuo a não compreender absolutamente muitas coisas. Tenho pensado na possibilidade de que este cenário reclama para si a condição de detentor de conhecimentos, obviamente com respeito às devidas delimitações conceituais, e a partir disto, a sinalização de sujeitos hierarquizados nesta esfera ordinal.
Numa condição imediata de convivência, minhas dúvidas faziam com que ao estudar para compartir, delimitava minhas entradas, tendo em vista a verticalidade exigida pelos detentores do conhecimento sistematizado que não permitiam - ainda não - digressões, ou outras “disciplinaridades”. Diziam eles, e ainda dizem: quem sabe muito sobre muitas coisas, não sabe muito sobre nada?! Vivi (o) na pele esta condição, pois minha formação “eclética” me condiciona ao estabelecimento de rótulos, seja em minha área de base, seja fora dela, ou nas condições materiais de convivência comum.
É verdade, estou num dilema. Encontro nas músicas, nos filmes e pasmem, nas novelas também, algumas possibilidades de compreender estas construções sociais, afinal é um momento bem sublime e interessante, afinal sou só eu e aquele amigo imaginário que estabelecemos ideias e pensamentos de ordem surrealista. Mas na verdade, ao término destas abstrações, a realidade empírica se manifesta através de meus atos e da re (la) ação destes com os outros.
Pasmem companheiros (as), mas eu toco alguma coisa de instrumentos musicais, violão e contrabaixo principalmente. Influência artística herdada de família, uma vez que a música sempre esteve presente nos acontecimentos familiares em minha infância. Inclusive, algumas vezes me aventuro tocar em algum lugar - pobre de quem escuta (eheheh) - mas sempre com amigos, pois assim não faz diferença se toco bem ou mal, pois, de fato, o que interessa é o momento junto que passamos e recordamos de passagens da vida, ou simplesmente conversamos por gostar de estar com o outro e em tempos modernos isto é bem e muito raro.
Existem alguns músicos que gosto muito de escutar, obviamente escutar meu irmão Sandro Cartier - baterista e percussionista - me acomete demasiadamente, tendo em vista a expressão e compromisso presente em sua obra, e neste sentido por estar presente ao longo do tempo de sua vida, consigo compreender a natureza histórica de suas composições. Por outro lado, gosto de outros que não conheço pessoalmente, minhas conexões com estes são exclusivamente pelas suas canções. Imagino o que querem dizer, mas realmente nunca saberei - de fato - o que querem dizer (a não ser que digam diretamente a mim), portanto faço minhas interpretações, às vezes temporais, outras nem tanto, mas sempre sobre a minha lente de visualização.
Escutando um músico de POA que gosto muito – Nei Van Sória – fico pensando que deve existir um reservatório cósmico das canções e que ele deve ter acesso exclusivo, pois sempre chega primeiro do que eu e parece que reserva todas as canções que eu um dia gostaria de compor, mas minha capacidade artística e cognitiva não permite compor tais canções ou chegar antes dele neste reservatório (eheheh), portanto me reservo ao direito de me apropriar indebitamente sem nenhuma culpa na consciência, pois suas músicas traduzem alguns momentos bem interessante de minha vida, só me resta agradecer - obrigado NVS!
A relação existente da música com minhas atividades mundanas é que esta oferece possibilidades de repensar inúmeras questões do meu dia de maneira abstraída, contudo sempre relacionando com a materialidade de minhas ações, e desta forma poderia dizer – a música me permite espacializar meus pensamentos além das amarras sociais - inclusive no campo científico inicialmente frisado, ou principalmente nele - que caminham junto com a história da humanidade, e se surpreendam, mas me parece que ninguém neste mundo consegue ser o que gostaria de ser sem ser punido por aqueles que priorizam a subserviência e poder sobre tudo e todos (a não ser que estes sejam eles. Mas aí já venderam suas almas!). É verdade, a musica aguça a minha curiosidade, e permite ilações de natureza histórica, e porque não dizer dialética, afinal sou um ser em construção e necessito do outro e das suas contradições.
E pensando no âmbito do “campo científico”, da “música” e das “atividades mundanas” chego a algumas interpretações e proposições de ordem futurista. Sinalizo que preciso continuar a realizar o exercício da curiosidade e da operacionalização musical de minhas ideias/ações, ainda que isto cause algumas feridas narcisistas em outrem, e em mim tensões. Pois sei que da forma conduzo minha vida, a possibilidade de prejuízos que terei e tenho é grande, todavia a lida continua, sempre, afinal me sinto preparado para esta zombaria “nunca tá morto quem peleia”. E como dizia um companheiro por aí - se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros, portanto eu me incomodo.
A música me permite isto. Que bom!


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