Algumas perguntas insistem
em me incomodar de uma maneira que somente eu consigo perceber o estrago disto
tudo. Estrago em função das dúvidas que constantemente assolam meu pensar. De
certo, às vezes isto me deixa bastante feliz, pois clarifica meus pensamentos,
me conduz a uma necessidade incessante de conhecer e compreender as coisas.
Quando conheço e compreendo estas coisas tenho enormes possibilidades para
agir/tomar atitudes que condizem com a minha estrutura cognitiva, meu modo de
operar. Como o objetivo textual não está nas perguntas e sim no compartilhar
dos meus pequenos monstros vamos expor os ditos cujos.
Uma das minhas dúvidas
reside num campo bem determinado e rigorosamente sistematizado “o campo científico”.
Por um tempo eu tinha muitas dificuldades em compreender este cenário. Passado
algum tempo percebo que, de fato, continuo a não compreender absolutamente
muitas coisas. Tenho pensado na possibilidade de que este cenário reclama para
si a condição de detentor de conhecimentos, obviamente com respeito às devidas
delimitações conceituais, e a partir disto, a sinalização de sujeitos
hierarquizados nesta esfera ordinal.
Numa condição imediata de
convivência, minhas dúvidas faziam com que ao estudar para compartir,
delimitava minhas entradas, tendo em vista a verticalidade exigida pelos
detentores do conhecimento sistematizado que não permitiam - ainda não - digressões,
ou outras “disciplinaridades”. Diziam eles, e ainda dizem: quem sabe muito
sobre muitas coisas, não sabe muito sobre nada?! Vivi (o) na pele esta
condição, pois minha formação “eclética” me condiciona ao estabelecimento de
rótulos, seja em minha área de base, seja fora dela, ou nas condições materiais
de convivência comum.
É verdade, estou num dilema.
Encontro nas músicas, nos filmes e pasmem, nas novelas também, algumas
possibilidades de compreender estas construções sociais, afinal é um momento
bem sublime e interessante, afinal sou só eu e aquele amigo imaginário que
estabelecemos ideias e pensamentos de ordem surrealista. Mas na verdade, ao
término destas abstrações, a realidade empírica se manifesta através de meus
atos e da re (la) ação destes com os outros.
Pasmem companheiros (as),
mas eu toco alguma coisa de instrumentos musicais, violão e contrabaixo
principalmente. Influência artística herdada de família, uma vez que a música
sempre esteve presente nos acontecimentos familiares em minha infância.
Inclusive, algumas vezes me aventuro tocar em algum lugar - pobre de quem
escuta (eheheh) - mas sempre com amigos, pois assim não faz diferença se toco
bem ou mal, pois, de fato, o que interessa é o momento junto que passamos e
recordamos de passagens da vida, ou simplesmente conversamos por gostar de
estar com o outro e em tempos modernos isto é bem e muito raro.
Existem alguns músicos que
gosto muito de escutar, obviamente escutar meu irmão Sandro Cartier - baterista
e percussionista - me acomete demasiadamente, tendo em vista a expressão e
compromisso presente em sua obra, e neste sentido por estar presente ao longo
do tempo de sua vida, consigo compreender a natureza histórica de suas
composições. Por outro lado, gosto de outros que não conheço pessoalmente,
minhas conexões com estes são exclusivamente pelas suas canções. Imagino o que
querem dizer, mas realmente nunca saberei - de fato - o que querem dizer (a não
ser que digam diretamente a mim), portanto faço minhas interpretações, às vezes
temporais, outras nem tanto, mas sempre sobre a minha lente de visualização.
Escutando um músico de POA
que gosto muito – Nei Van Sória – fico pensando que deve existir um
reservatório cósmico das canções e que ele deve ter acesso exclusivo, pois
sempre chega primeiro do que eu e parece que reserva todas as canções que eu um
dia gostaria de compor, mas minha capacidade artística e cognitiva não permite
compor tais canções ou chegar antes dele neste reservatório (eheheh), portanto
me reservo ao direito de me apropriar indebitamente sem nenhuma culpa na
consciência, pois suas músicas traduzem alguns momentos bem interessante de
minha vida, só me resta agradecer - obrigado NVS!
A relação existente da
música com minhas atividades mundanas é que esta oferece possibilidades de
repensar inúmeras questões do meu dia de maneira abstraída, contudo sempre
relacionando com a materialidade de minhas ações, e desta forma poderia dizer –
a música me permite espacializar meus pensamentos além das amarras sociais -
inclusive no campo científico inicialmente frisado, ou principalmente nele -
que caminham junto com a história da humanidade, e se surpreendam, mas me
parece que ninguém neste mundo consegue ser o que gostaria de ser sem ser
punido por aqueles que priorizam a subserviência e poder sobre tudo e todos (a
não ser que estes sejam eles. Mas aí já venderam suas almas!). É verdade, a
musica aguça a minha curiosidade, e permite ilações de natureza histórica, e
porque não dizer dialética, afinal sou um ser em construção e necessito do
outro e das suas contradições.
E pensando no âmbito do
“campo científico”, da “música” e das “atividades mundanas” chego a algumas
interpretações e proposições de ordem futurista. Sinalizo que preciso continuar
a realizar o exercício da curiosidade e da operacionalização musical de minhas
ideias/ações, ainda que isto cause algumas feridas narcisistas em outrem, e em
mim tensões. Pois sei que da forma conduzo minha vida, a possibilidade de
prejuízos que terei e tenho é grande, todavia a lida continua, sempre, afinal
me sinto preparado para esta zombaria “nunca tá morto quem peleia”. E como dizia um companheiro por aí - se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros, portanto eu me incomodo.
A música me permite isto. Que bom!
A música me permite isto. Que bom!
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