Conversando com um amigo imaginário meu, que chamo de Fleris, discuti algumas proposições que
julgo necessário para compreender os motivos que levam a pensar sobre os
monstros que saíram do meu armário, e nestas atividades propositivas Fleris me chamou a atenção da
necessidade do resgate aos monstros, perguntei a ele como chegou nestas considerações,
sem titubear vociferou: você precisa deles para sua constituição como ser
humano subjetivo, relacional e essencialmente errante.
Contudo sinalizei ao Fleris
que vou expulsar mais alguns monstrinhos e depois trago eles de volta para
continuar minha vida terrena e contraditória, afinal tenho certeza de algumas
coisas na vida, e uma delas é que os monstrinhos não serão os mesmos ao voltar,
pois ao voltar terão novas roupagens, personas
e neste sentido, certamente, pensarei em outras dimensões, que não havia
pensado anteriormente, portanto me resignificarei como sujeito. Ficamos de
acordo com tais colocações, afinal uma das poucas vezes que concordamos; eu e Fleris; com alguma coisa, eheheheh!
Tenho pensado nos últimos tempos o quanto vivo aprisionado neste mundo,
nestas condições de vivência. O incrível é que quando não pensava - alienado -
sobre estes fenômenos, isto não me angustiava, nem me ocorria discernir, que
coisa louca! Mas na realidade eu já dizia em algum tempo atrás - o conhecimento te liberta, mas também te
aprisiona - e de fato, quanto mais estudamos, refletimos, pensamos e
dialogamos mais perceptivos ficamos e isto muitas vezes oferece limitadores
relacionais, dessa forma impedindo algumas entradas. Talvez em função do medo
intrínseco do ser humano perder algum posicionamento social ou de similar
natureza. Apenas meras conjecturas de um
sujeito errante.
Conversando com Fleris,
tocando um violão e tudo mais, fui descobrindo as relações existentes entre os
tipos de prisões que me acometem. Meu apartamento tem uma péssima acústica, nas
ruas, câmeras por todos os lados, na universidade observam minhas vestimentas,
o carro que tenho o que consumo, entre outras coisinhas mais. Ao desenvolver minhas atividades, de igual
forma me observam, julgam, estabelecem juízos de valores e pior socializam com
os outros, criando um perfil acerca de mim, que inexoravelmente me situam em um
contexto de difícil retirada. Contudo, desenvolvo a ideia de que sou
responsável pelo que faço, somente isto, portanto, não tenho responsabilidade
do que falam de mim e nem de como interpretam minhas ações.
Ao mesmo tempo em que observo minhas prisões, tenho a felicidade de
refletir e dividir com Fleris posicionamentos
de ordem libertária que de certa maneira se encontram alocadas inicialmente em
meu pensamento. De certo sei que meu corpo ocupa um espaço no universo - bem
grande eheheh - e desta forma já
traduz um tipo de linguagem que poucas vezes observamos. Esta linguagem corporeificada manifesta uma expressão
que certamente ao se relacionar com o outro se ressignifica, o que permite
interpretar, se policia. Inevitável então dizer - meu pensamento é livre. Ufa!
Estava preocupado que não existisse liberdade para nos sujeitos deste mundo.
No âmbito das relações as prisões estão aí, para todos verem. Com
algumas paráfrases diria - uma liberdade vigiada com violências simbólicas como
dizia um grande autor, uma relação panóptica diria outro, condições alienantes
diria um barbudinho, uma sociedade de controle diria um filosofo de relevância
acadêmica e inevitavelmente cuidando da vida dos outros e fazendo fofocas
diriam os mais ignorantes mundanos.
Estas prisões fazem parte do nosso convívio diário, uns aceitam sem
duvida alguma, outros pensam e reproduzem paradigmas vigentes, outros nem sabem
delas. Seja como for, uma das poucas coisas que tenho certeza é que no andar
das carruagens as abóboras não se ajeitam. E Fleris tem razão ao dizer: sou um dos poucos que pode confiar,
confie em mim, pois assim te ajudarei, estabelecerei relações entre os
fenômenos e prospectarei melhores condições em suas ações humanas, apenas me
alimente todos os dias com bons pensamentos, boas leituras e boas doses de
amor, afeto e carinho. Respondi a ele: sem dúvidas és a minha punção desejosa,
minha consciência e demais instancias psíquicas. Obrigado Fleris!