Em um dado momento da minha vida comecei a
observar mais coisas do que vinha observando até o momento. Digamos que tive
uma necessidade de uma compreensão mundana de maneira a assegurar minha
existência física, afinal perceber minha existência e a dos outros é uma tarefa
de bastante complexa que exige minimamente fazer relações entre as coisas
observáveis e, claro, sobre os motivos pessoais destes que levam a concatenação
e materialização dos fatos.
Ao fazer isto percebi que, de fato, já fazia
este exercício desde a minha tenra idade. Por exemplo. Escolhi jogar
basquetebol porque queria fazer um esporte que pouca gente fazia e que me
oportunizasse uma identidade distanciada do esporte nacional. Ou seja, queria algo
que pudesse construir sem a necessidade de ser como este ou aquele que pratica
afinal não conhecia ninguém mesmo (risos). Mas isto já me dizia da necessidade
da autonomia para exercer as responsabilidades mundanas e da autenticidade ao
construir sua história de vida.
Conversando com um colega de
profissão comecei a observar que realmente vivemos em um estado de
superficialidade monumental. Contava-me dos seus planos e projetos para a sua
vida. A superficialidade não reside no seu modo de pensar a vida, pois não
quero e quis julgá-lo, e sim “roubar” suas melhores ideias e ideais, e
obviamente aquilo que não pactuo, descarto. Egoísta não é!? Mas para o bem. No
final desta prosa me provoquei sinalizando: o que é a superficialidade?
Somos senhores do nosso pensamento,
senhores de nosso posicionamento. E, quando não aceitamos ou não compreendemos
o outro descartamos, ou na maior vulgaridade falamos mal deste, sem a menor
capacidade construtiva de relacionar ou refletir outros posicionamentos. Com este
colega tive a oportunidade de vivenciar algumas situações curiosas e
agradáveis.
Veja só: levantei coisas supostamente
irrelevantes no contexto em que vivemos, tais como: o que leva um sujeito levar
vantagem em tudo àquilo que faz? Obviamente tenho a clareza da história,
cultura, valores idealizados ao longo do tempo e o modelo capitalista de
desenvolvimento do mundo, que sem sombra de dúvidas possuem influência direta
nesta forma de condução e construção social. Contudo, posso pensar, refletir e
sinalizar outras construções mais justas.
Meu colega assim se posicionou: olha, a
sociedade, o mundo tem vivenciado as mais diversas transformações, seja no
âmbito da relação, do meio ambiente, ou em outra dimensão qualquer, em que o
ser humano é, indubitavelmente, o centro destas transformações com seus
conhecimentos e a espacialização deles. Transformações que muito mais
provocaram situações desagradáveis do que agradáveis. Sinalizei: é verdade!
Chamam isto de evolução. Devastam tudo tendo em vista o progresso - do que? De quem? - milhares e pessoas passam fome em
nosso país. Nossos legisladores legislam; em sua maioria; em causas próprias.
Boa parte da mídia garante sua audiência observando o sofrimento alheio. Ordem? De quem? Para quem? Se boa parte
da população em uma transação monetária qualquer, quer a mais valia absoluta.
Ora, este é o lema da nossa bandeira,
subversivamente trocada a ordem (risos). Fiquei intrigado com este meu colega,
afinal ele nunca havia mostrado este lado “Eduardo; Cartier; Laranja”, ou seja,
“reclamão” de ser. Fiquei a pensar. Existe alguém em algum lugar no espaço que
também está interessado e preocupado com as iniquidades sociais e com - como
fala minha mestra - o bem viver dos seres humanos e do ambiente que vivemos.
Inevitável dizer, que produzimos a cada atitude e decisão tomada.
Desta prosa tive a certeza, somos
responsáveis por tudo que acontece ao nosso redor, portanto precisamos ser mais
altruístas. Desenvolver ações de cunho coletivo. Ser benevolentes em nossas
relações. Em meu caso de professor, socializar com mais afincos conceitos e
práxis que possam desenvolver o ser humano em sua totalidade. Penso que assim
pensaríamos até que não existe a necessidade de carros que ultrapassam os
limites das rodovias, ou será que querem que exista a transgressão.
Da maneira que vivemos me parece que
continuaremos na ordem e progresso e quando não conseguirmos
manter a ordem e o progresso, criamos novas leis e regras
para assegurar o suposto controle da sociedade, tal como o sistema de
desenvolvimento capitalista cria suas necessidades, evidenciando o crescimento
desigual e produzindo riqueza para os ricos e pobreza e a sensação de consumo
para os pobres com discurso de acesso a riqueza.
Nesta prosa com meu amigo fiquei contente,
portanto feliz, e pude compreender as possibilidades de respostas da pergunta
inicial: o que leva um sujeito levar
vantagem em tudo àquilo que faz? Certamente mais dúvidas e perguntas do que
respostas. Que bom se tivesse resposta para tudo, ou para muitas coisas, não estaria
escrevendo aqui aos diversos ventos, identificando minha ignorância conjuminada
com minha falta de lucidez e intelectualidade. Que bom que aqui posso ser
apenas ser. Nesta estrada, o mais importante é o caminho. Da felicidade e das
condições justas.